Projeto Aquarius cai no samba e anima plateia na Praça da Apoteose, com OSB e Belo

Com direito a Beethoven em novo ritmo, espetáculo inovou ao reunir no palco do Sambódromo a Orquestra Sinfônica Brasileira, o cantor do Soweto e ritmistas de agremiações cariocas, no domingo Ainda faltam dois meses para o carnaval, mas a Praça da Apoteose começou no último domingo (3) a esquentar os tamborins — além de violinos, violoncelos, clarinetas e outros instrumentos pouco frequentes no Sambódromo. Às 18h30, o Rei Momo carioca e sua corte deram boas-vindas à Orquestra Sinfônica Brasileira, que logo atacou de “Não deixe o samba morrer”, gravado por Alcione, “Brasileirinho”, choro de Waldir Azevedo, “Aquele abraço”, de Gilberto Gil, e “Deixa a vida me levar”, de Zeca Pagodinho. Começava ali o concerto especial do Projeto Aquarius que teve como convidados especiais o cantor Belo, representante do atual pagode carioca, e ritmistas de quatro escolas de samba. Esperança verde: Desmatamento da Mata Atlântica reduz 66% no Rio em 2023, mostra levantamento Nova cúpula do jogo do bicho: guerra por territórios muda mapa da contravenção e tem rastro de 13 mortes O público aprovou logo no início. Usando chapéu da Portela, a contadora Fátima Lima contou que saiu de Bento Ribeiro com uma amiga para assistir à festa: — Há muito tempo queria ver o Aquarius, mas é a primeira vez que consigo. Sou do samba, mas vim mesmo pela música instrumental. E não faltou o instrumental que Fátima queria. Conhecido pelos tradicionais encontros, gratuitos e ao ar livre, entre os repertórios erudito e popular desde sua criação, em 1972, o Aquarius já misturou a música clássica com ritmos como rock e MPB, sempre com convidados especiais. No domingo, a mistura deu samba. "Made in Rio": Na terra da feijoada e caipirinha, queijos e vinhos entram na rota do turismo no estado Sob regência de Anderson Alves, maestro titular da OSB jovem, os músicos caíram na folia com marchinhas e clássicos do gênero — de “Ó abre-alas” (Chiquinha Gonzaga) e “Noite dos mascarados” (Chico Buarque) a “Com que roupa?” (Noel Rosa) —, antes de emendar na Quinta e na Nona sinfonias de Beethoven. E aí, o toque especial: com a ajuda de ritmistas de escolas de samba, as peças do compositor alemão ganharam jeitão de batucada, com direito a um baile do casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro. Mistura que deu samba: o cantor Belo desfilou hits do pagode romântico e hinos da avenida ao lado da Orquestra Sinfônica Brasileira Leo Martins O público adorou. Tanto que, a certa altura, o silêncio habitual dos concertos de câmara deu lugar a uma voz poderosa vinda da plateia: — Isso tá é lindo! Depois foi a vez de Belo subir ao palco montado sob os arcos da Apoteose para mostrar alguns de seus hits. Chegou sendo muito aplaudido e, já ao lado da orquestra, abriu sua participação com “Derê”, sucesso do fim dos anos 1990 do grupo Soweto (com quem Belo voltará a se reunir para uma turnê em 2024), mais as suas “Reinventar” e “Perfume”, que ganharam arranjos sinfônicos. A professora Daiane Soares, que chegara cedo para garantir um lugar na grade e ficar pertinho de seu ídolo, disse que era primeira vez que assistia a uma orquestra ao vivo: — A gente tem que se permitir outras experiências. Vim para ver tudo. O que Daiane não esperava era ver Belo cantando “Carinhoso”, um clássico de Pixinguinha, com letra de Braguinha, bem no feitio de suas canções românticas. Sucesso imediato. Símbolo do Rio: botos-cinza estão ameaçados na Baía de Sepetiba Apresentado pela jornalista da TV Globo Mariana Gross, o espetáculo em homenagem ao Dia do Samba — celebrado na véspera — também surpreendeu o público com uma sequência de sambas-enredo históricos. Belo chamou ao palco a corte momesca e passistas e, com a superbateria, todos enveredaram por hinos como “Kizomba, festa da raça” (Martinho da Vila), “O amanhã” (Didi e João Sérgio) e “Aquarela brasileira” (Silas de Oliveira), antes do final com “A voz do morro”, de Zé Keti. Foi apoteótico, como ficou claro na alegria de Belo ao fim do espetáculo: — Eu estava ansioso. Música sempre se encaixa, mas eu não sabia que ia ser tão grandioso e gostoso, superou minhas expectativas. Vou tentar levar a orquestra para a vida, para os meus concertos, DVDs. Fiquei lisonjeado com o convite e espero que esse encontro seja o primeiro de muitos. Estou muito feliz — disse o cantor. Com direção musical de Pretinho da Serrinha, a festa ganhou elogios também do cenógrafo Milton Cunha, comentarista de carnaval da TV Globo e veterano do Projeto Aquarius, que ele acompanha há 40 anos: Pioneira: A vida nada comum de 'Bebê', escolhida a mulher mais bonita do Rio em 1900 — Lembro que, jovem, fui à Quinta da Boa Vista ver uma coisa fabulosa, que a cidade inteira comentava. Quando vi o lago, o palco e o (maestro) Isaac Karabtchevsky... Era um outro mundo poderoso, me apaixonei — conta Milton, que já assistiu a várias edições.— Sou fã desse encontro de dois mundos, da não parede. Essas linguagens se complementam, o ziriguidum tem breque que a orquestra não tem, quando

Projeto Aquarius cai no samba e anima plateia na Praça da Apoteose, com OSB e Belo

Com direito a Beethoven em novo ritmo, espetáculo inovou ao reunir no palco do Sambódromo a Orquestra Sinfônica Brasileira, o cantor do Soweto e ritmistas de agremiações cariocas, no domingo Ainda faltam dois meses para o carnaval, mas a Praça da Apoteose começou no último domingo (3) a esquentar os tamborins — além de violinos, violoncelos, clarinetas e outros instrumentos pouco frequentes no Sambódromo. Às 18h30, o Rei Momo carioca e sua corte deram boas-vindas à Orquestra Sinfônica Brasileira, que logo atacou de “Não deixe o samba morrer”, gravado por Alcione, “Brasileirinho”, choro de Waldir Azevedo, “Aquele abraço”, de Gilberto Gil, e “Deixa a vida me levar”, de Zeca Pagodinho. Começava ali o concerto especial do Projeto Aquarius que teve como convidados especiais o cantor Belo, representante do atual pagode carioca, e ritmistas de quatro escolas de samba. Esperança verde: Desmatamento da Mata Atlântica reduz 66% no Rio em 2023, mostra levantamento Nova cúpula do jogo do bicho: guerra por territórios muda mapa da contravenção e tem rastro de 13 mortes O público aprovou logo no início. Usando chapéu da Portela, a contadora Fátima Lima contou que saiu de Bento Ribeiro com uma amiga para assistir à festa: — Há muito tempo queria ver o Aquarius, mas é a primeira vez que consigo. Sou do samba, mas vim mesmo pela música instrumental. E não faltou o instrumental que Fátima queria. Conhecido pelos tradicionais encontros, gratuitos e ao ar livre, entre os repertórios erudito e popular desde sua criação, em 1972, o Aquarius já misturou a música clássica com ritmos como rock e MPB, sempre com convidados especiais. No domingo, a mistura deu samba. "Made in Rio": Na terra da feijoada e caipirinha, queijos e vinhos entram na rota do turismo no estado Sob regência de Anderson Alves, maestro titular da OSB jovem, os músicos caíram na folia com marchinhas e clássicos do gênero — de “Ó abre-alas” (Chiquinha Gonzaga) e “Noite dos mascarados” (Chico Buarque) a “Com que roupa?” (Noel Rosa) —, antes de emendar na Quinta e na Nona sinfonias de Beethoven. E aí, o toque especial: com a ajuda de ritmistas de escolas de samba, as peças do compositor alemão ganharam jeitão de batucada, com direito a um baile do casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro. Mistura que deu samba: o cantor Belo desfilou hits do pagode romântico e hinos da avenida ao lado da Orquestra Sinfônica Brasileira Leo Martins O público adorou. Tanto que, a certa altura, o silêncio habitual dos concertos de câmara deu lugar a uma voz poderosa vinda da plateia: — Isso tá é lindo! Depois foi a vez de Belo subir ao palco montado sob os arcos da Apoteose para mostrar alguns de seus hits. Chegou sendo muito aplaudido e, já ao lado da orquestra, abriu sua participação com “Derê”, sucesso do fim dos anos 1990 do grupo Soweto (com quem Belo voltará a se reunir para uma turnê em 2024), mais as suas “Reinventar” e “Perfume”, que ganharam arranjos sinfônicos. A professora Daiane Soares, que chegara cedo para garantir um lugar na grade e ficar pertinho de seu ídolo, disse que era primeira vez que assistia a uma orquestra ao vivo: — A gente tem que se permitir outras experiências. Vim para ver tudo. O que Daiane não esperava era ver Belo cantando “Carinhoso”, um clássico de Pixinguinha, com letra de Braguinha, bem no feitio de suas canções românticas. Sucesso imediato. Símbolo do Rio: botos-cinza estão ameaçados na Baía de Sepetiba Apresentado pela jornalista da TV Globo Mariana Gross, o espetáculo em homenagem ao Dia do Samba — celebrado na véspera — também surpreendeu o público com uma sequência de sambas-enredo históricos. Belo chamou ao palco a corte momesca e passistas e, com a superbateria, todos enveredaram por hinos como “Kizomba, festa da raça” (Martinho da Vila), “O amanhã” (Didi e João Sérgio) e “Aquarela brasileira” (Silas de Oliveira), antes do final com “A voz do morro”, de Zé Keti. Foi apoteótico, como ficou claro na alegria de Belo ao fim do espetáculo: — Eu estava ansioso. Música sempre se encaixa, mas eu não sabia que ia ser tão grandioso e gostoso, superou minhas expectativas. Vou tentar levar a orquestra para a vida, para os meus concertos, DVDs. Fiquei lisonjeado com o convite e espero que esse encontro seja o primeiro de muitos. Estou muito feliz — disse o cantor. Com direção musical de Pretinho da Serrinha, a festa ganhou elogios também do cenógrafo Milton Cunha, comentarista de carnaval da TV Globo e veterano do Projeto Aquarius, que ele acompanha há 40 anos: Pioneira: A vida nada comum de 'Bebê', escolhida a mulher mais bonita do Rio em 1900 — Lembro que, jovem, fui à Quinta da Boa Vista ver uma coisa fabulosa, que a cidade inteira comentava. Quando vi o lago, o palco e o (maestro) Isaac Karabtchevsky... Era um outro mundo poderoso, me apaixonei — conta Milton, que já assistiu a várias edições.— Sou fã desse encontro de dois mundos, da não parede. Essas linguagens se complementam, o ziriguidum tem breque que a orquestra não tem, quando junta partitura e a verve popular, uma impulsiona a outra. Música ao ar livre Idealizado pelo maestro Isaac Karabtchevsky, com o jornalista Roberto Marinho (1904-2003) e o então gerente de Promoções do GLOBO Péricles de Barros (1935-2005), o Aquarius tem como premissa popularizar os clássicos junto ao grande público. Os concertos gratuitos, em espaços abertos, já reuniram mais de nove milhões em locais como Quinta da Boa Vista, Aterro do Flamengo, Forte de Copacabana e Praça Mauá, palco da comemoração de 50 anos do projeto, com convidados como Lenine. Entre os nomes que já dividiram acordes com a OSB, estão as bandas Barão Vermelho e Blitz, além da cantora Fafá de Belém, que se apresentou na volta do Aquarius a São Paulo, em outubro passado. O Aquarius Rio de Janeiro é uma apresentação do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale e tem a realização do GLOBO. O evento conta ainda com a Cidade do Rio de Janeiro como Cidade Anfitriã e o Governo do Estado do Rio de Janeiro como Estado Anfitrião e apoio do Sesc RJ, Eletrobras, Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, e da Riotur, Parceria da Orquestra Sinfônica Brasileira e tem as rádios Globo e CBN como Rádios Oficiais.